1.
Influência grega
Buscaremos
aqui trazer uma síntese histórica da influência grega no “cristianismo “chamado
Universal, ou seja, aquele nascido em Roma, dentro do Império, e nestes dias,
alguns têm entendido essa influência do pensamento grego nas interpretações das
Escrituras, mas muitos ainda desconhecem este contexto grego e por isso ainda
estão inseridos nele.
A própria
cultura ocidental tem por base a cultural grega, e isto é facilmente percebido
em algumas palavras como : Música, Eco, erótico , pornografia, grafia, gráfico,
Sofia, Era, idiota, lógico, idolatria, heresia, igreja, apóstolo, bispo,
presbítero,Europa , crise , metrópoles , Psicologia, psique , teologia, didático
, filosofia, e muitas outras.Estas palavras tem sua origem no grego, e algumas
provém da mitologia grega.
E
juntamente com as palavras também percorrem os seus pensamentos e ideologias,
pois sabe-se que as palavras são signos e símbolos, os quais carregam em si um
contexto social - ideológico - histórico .
Por
exemplo, a palavra "Música" vem do grego "musiké téchne",
“a arte das musas”.Na Grécia haviam nove entidades mitológicas chamadas de
musas que eram consideradas “deusas inspiradoras da música” .
Na
mitologia grega a "musica" também era usada pelas sereias, no sentido
de encanto e sedução para com os navegantes.
Portanto,
este conceito mitológico pode estar inserido no contexto musical, e como podemos
perceber esta influência atualmente?
Nos meios
religiosos se percebe facilmente este tipo de pensamento mitológico musical,
pois na maioria das vezes se deseja uma "musica" que inspire, que
envolva, encante e seduza, para então se poder “adorar ao Senhor” ou então para
incorporar um espírito ou esvaziar a mente. Até mesmo aqueles que ministram em
congregações "cristãs",as vezes são levados por este desejo de
seduzir e manipular o público afim de levar à um emocionalismo, e isso para
parecer que o momento é mais espiritual e mais aceitável pelo
"senhor" que se louva.
De forma
geral na sociedade atual,a "música", tem por intenção conduzir os
ouvintes a um estado de cativeiro e embriaguês dos sentidos, afim de induzir o
indivíduo à uma ação manipulada.
Mas o
Eterno de Israel não usa de sedução, pois esta forma de ação está relacionada
ao engano. E tudo aquilo que procura tirar a consciência do homem não provém do
Eterno, ou seja, se alguma "música" busca tirar a consciência por
meio de um transe, ou que tem por objetivo tirar a liberdade de se pensar, esta
"música" não provém do Eterno, mas de uma mentalidade grega da
utilização da "música".
E da mesma
forma, esta influência grega chegou até o "cristianismo" e
consequentemente foi adquirida uma visão grega de personagens com o título
"deus" e "Jesus" , e assim também, interpretou-se as
Escrituras de acordo com esse pensamento grego.
2. Revendo
a influência na história_ Comunidade dentro do contexto hebraico
VAMOS
PASSEAR UM POUCO PELA HISTÓRIA, para compreendermos mais sobre essa influência
grega na interpretação das Escrituras e o afastamento da base hebraica.
Bom, antes
de tudo, precisamos compreender que a Comunidade dos discípulos de Jesus do 1º séc,
não era considerada afastada do contexto hebraico e parte de uma religião
chamada “cristianismo”
Os
Nazarenos, como assim também eram chamados os discípulos de Jesus no 1º séc.,
foram descritos por alguns escritores dos primeiros séculos depois de Jesus
como sendo judeus, mas diferentes dos judeus tradicionais sem Jesus e
diferentes dos cristãos .
Vejamos o
que o Padre Epifânio (Sec IV) declara sobre os Nazarenos na obra Panarion:
“Mas estes
sectários... não se chamavam de cristãos – mas de ‘nazarenos’... contudo, são
simplesmente judeus completos... Eles não possuem diferentes idéias, mas
confessam tudo exatamente como a Torá descreve e na forma judaica – exceto, porém,
por sua crença na Messias.Pois eles reconhecem tanto a ressurreição dos mortos
quanto a criação divina de todas as coisas, e declaram que Deus é Um, e que o
Seu Filho é Jesus o Messias.Eles são bem treinados no hebraico .Pois dentre
eles a Torá inteira, os Profetas e os Escritos)... são lidos em hebraico...
Eles são diferentes dos judeus, e diferentes dos cristãos, apenas no seguinte:
Eles discordam dos judeus porque chegaram à fé no Messias; mas eles ainda estão
na Torá... circuncisão, o Sábado, e o restante... eles não estão de acordo com
os cristãos...eles não são nada mais do que judeus...Eles possuem as Boas Novas
de acordo com Mateus completamente em hebraico...Tal qual foram escritas
originalmente.” (Epifânio;Panarion.29)
O
historiador Justo L. Gonzales diz em seu livro História do Cristianismo dos
primeiros crentes “ ...Não pensem que eles pertenceram a uma nova religião.
Eles eram judeus, e a única diferença que os separavam do restante, é que eles
acreditavam que o Messias havia chegado, enquanto os demais judeus ainda
aguardavam a vinda do Messias”.
E de acordo
com Jerônimo os nazarenos eram aqueles que aceitam o Messias de uma forma que
não deixam de observar a “velha Lei”
A respeito
da Seita dos Nazarenos, creio ser interessante comentarmos algo sobre a palavra
“seita”, e isto vai nos indicar ainda mais a posição da Comunidade do 1º século
dentro do judaísmo da época.Bem, “seita” no sentido original
"heiresis" no grego é uma divisão, uma ramificação, donde vem a
palavra " herege", ou seja, alguém que faz parte de uma seita.Bom,
seria como no judaísmo na época de Jesus por exemplo, o judaísmo tinha a seita
dos saduceus, dos fariseus, dos essênios, dos zelotes, e os discípulos de Jesus
no 1º séc eram considerados a como a SEITA DOS NAZERENOS , e isto simplesmente
porque eram considerados uma ramificação do judaísmo, eles eram uma divisão do
judaísmo, ou seja, não estavam totalmente associados ao conceito do judaísmo ,
mas também não estavam totalmente afastados, o que ligava ao judaísmo era a Lei
e os Profetas, e não os costumes e tradições.Mas hoje em dia "seita"
tem um sentido mais pejorativo e ruim, mas é simplesmente uma ramificação ou
uma divisão, e isto pode ser tanto para o bem quanto para o mal.Então pode
haver uma seita boa quanto má, pois seita só caracteriza uma divisão ou
ramificação de um grupo maior.
At 5.17 -
Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é,
a SEITA DOS SADUCEUS, tomaram-se de inveja
At 15.5 -
Insurgiram-se, entretanto, alguns da SEITA DOS FARISEUS que haviam crido,
dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de
Moisés.
At 24.5 -
Porque, tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições
entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da
SEITA DOS NAZARENOS (discípulos de Jesus),
At 24.14-
Porém confesso-te que, segundo o CAMINHO, a que chamam SEITA, assim eu sirvo ao
Deus de nossos pais, acreditando em todas as coisas que estejam de acordo COM A
LEI E NOS ESCRITOS DOS PROFETAS
E isto nos
mostra que os discípulos de Jesus e a comunidade do 1º séc eram considerados
parte do judaísmo , porém sendo uma ramificação e não algo isolado ou afastado
do conceito do judaísmo.Não eram considerados Cristianismo, mas permaneciam na
Lei e nos Profetas. Através desses relatos podemos observar que haviam os
nazarenos que seguiam Jesus, viviam a Lei, mas não estavam ligados ao
cristianismo.Eles são tidos como pessoas que estão fora do cristianismo e são
comparados a judeus. Jerônimo e o Padre Epifânio, os quais estão no contexto do
cristianismo, consideram estes nazarenos como sectários. Portanto, a Igreja
desde a sua origem em Abraão e após Jesus , possui sua base hebraica, e é
formada por aqueles que estão dentro do contexto hebraico de Jesus, da Torá,
Israel e Jerusalém.
3.
Afastamento do contexto hebraico e introdução do contexto grego
E com o
passar dos anos houveram alguns acontecimentos que acabaram por ofuscar a base hebraica
da Comunidade dos discípulos do 1º séc.Contudo, precisamos entender que a
Igreja Verdadeira do Eterno sempre teve remanescentes fiéis , que não se corromperam
com o contexto Greco romano, e não deixaram suas raízes hebraicas. Mas veremos
a seguir alguns fatos que fizeram com que se criasse uma imagem falsa da Igreja
do Eterno, ou seja, uma igreja sem o elemento hebraico começa a entrar em cena
paralelamente a verdadeira .
- Ano 70
d.C – Destruição de Jerusalém
Creio que
o primeiro passo para o afastamento da Igreja de suas raízes ocorreu no ano 70
d.C
,quando os
crentes em Jesus fugiram de Jerusalém por causa da destruição causada por Tito,
acontecendo assim a diáspora(dispersão dos judeus pelo mundo). Os judeus
interpretaram este fato ocorrido como sendo o cumprimento de Mt 24.15.
- Ano 100
morre o ultimo dos apóstolos(emissários), a saber João.
Devido a
morte de João começam a surgir mais “pais” gregos da Igreja.Homens e mulheres
que começam a seguir Jesus, porém carregam consigo muitos dos costumes pagãos
ainda, e seguem a Jesus com um pensamento grego ou romano.
- Revolta
dos Judeus – Bar-kochba ( 132-135d.C):
Neste
período o imperador de Roma Adriano se mostra apararentemente favorável aos
judeus, dando liberdade para que fosse reconstruído o Templo em Jerusalém,
porém a intenção de Adriano era paganizar Jerusalém construindo um templo a Júpter
.Os judeus descobriram o intento do imperador, e após uma viagem dele
,resolveram se revoltar contra Roma.O resultado foi a morte e a prisão de
muitos judeus.Vários foram levados cativos como escravos para outras nações. Os
judeus foram proibidos de entrarem em Jerusalém , exceto no dia da derrota para
chorarem os mortos.Jerusalém se tornou Aelia Captolina, e a Judéia , Síria
Palestina.Adriano continuou a perseguir os judeus, proibindo os serviços da Torah
no Sábado, a circuncisão, e tudo o que se referia ao elemento judaico. E no
meio desta perseguição surge com mais evidência os “cristianismo” como religião
afastada do elemento hebraico, da Lei e dos Profetas.Levantam-se os defensores
do “cristianismo”, que passaram a dizer que o cristianismo não tinha ligação
com os judeus, mas era universal(católico).
- Inacio
(98 - d.C Antioquia) :
Cria o
termo “cristianismo” e é o primeiro a usar o termo Igreja Catolica, reconhecia
a superioridade de Roma. Opunha-se aos judeus.
E esta
defesa ao “cristianismo” nos mostra que os discípulos de Jesus viviam como
judeus.Por que? Porque viviam a mesma Torá.Qual Lei diz para não se comer porco
ou guardar o Sábado? A Torá.Logo, os romanos olhavam para aqueles que assim
faziam, mesmo não sendo judeus naturais, e automaticamente os consideravam como
judeus naturais.Então por isso, para fugir da perseguição, os defensores do
cristianismo acabaram se afastando do contexto hebraico, e declarando que nada
tinham a ver com os judeus.
E a história
continua com o surgimento de mais “pais” gregos “cristãos”, e assim
disseminando a cultura grega , o anti-semitismo e se afastando da cultura
hebraica.Vejamos alguns:
- Justino
Mátir(grego 100-170 d.C) :
Apologista,Filósofo
e cristão, escreveu duas obras “Apologias” - contra os pagãos - e “um Diálogo com
o judeu Trifão” - contra os hebreus.Escreveu Em um diálogo com Trifon , um
judeu, Justino diz “ a Bíblia não é mais vossa, mas nossa” . Ele também era
convencido de que a filosofia grega tende para Cristo.
- Marcião
de Sinope( 110 – 160 d.C) :
Cria o
termo Velho testamento e Novo Testamento, porque dizia que o deus do velho era
ruim e criador das leis judaicas e o do novo era bom e misericordioso, então
ele cria essa dicotomia.Dizia que o cristianismo veio para substituir o
judaísmo e que o D’us dos judeus era imperfeito.Diz-se que Marcião considerou o
ato de gerar um ato de grande indecência de D’us, pois se referia a localização
da vagina.Afirma ele: “nascemos entre as fezes e a urina” Na metade do Segundo
Século, Márcion eliminou de suas cópias do Evangelho segundo Lucas todas as
referências feitas a formação judaica de Jesus.”(Metzger, The Text, Pag 201)
- Cipriano
de Catargo (200-258 d.C) :
Em 250,
escreveu:” o diabo é o pai dos judeus”
- Agostinho*
de Hipona (354 – 430 d.C) :
Em 415,
ele escreve que os judeus carregam eternamente a culpa pela morte de Jesus, o
qual pensam ser o mesmo Jesus.Ele também cria a chamada teologia da
substituição, a qual descreve a substituição da nação Israel pela Igreja e que
antes do advento de Cristo, quem representava Deus era Israel , mas após a sua
vinda é a Igreja (com a exclusão dos judeus) que tem essa função sendo o
“Israel espiritual” ou o “novo Israel”.Por isso era necessária a conversão dos
judeus ao catolicismo.Essa teologia tornou-se popular em seu livro “ A cidade
de Deus”. As escrituras nada falam sobre isso, pelo contrário, as nações(gentes)
no Messias são enxertadas em Israel e desfrutam das mesmas promessas.(Rm 11)
- João
Crisostomos ( 344d.C)
Pregava
contra os judeus, em um de seus sermões ele diz o seguinte:
«Não vos
deixem surpreender por eu ter chamado os Judeus de desastrosos. Porque eles são
mesmo desastrosos e miseráveis. Aqueles que rejeitaram tão fervorosamente e
recusaram as muitas boas coisas que o céu lhes colocou nas mãos. Eles conheceram
os profetas desde a infância e crucificaram aquele que tinham profetizado.
Aqueles que foram chamados a ser filhos desceram à raça de cães.»
«Animais
sem entendimento, quando gozam de manjares que enchem e engordam, tornam-se
mais difíceis e incontroláveis e não tolerarão uma canga ou rédeas, ou a mão do
condutor. E o mesmo com a nação dos Judeus: porque eles se voltaram para o mal
extremo, tornaram-se irrequietos e não aceitaram o jugo de Cristo nem serem colhidos
pela ceifa dos seus ensinamentos.»
«Tais
animais que não pensam são próprios para o abate, porque eles não são próprios
para trabalhar. Os Judeus não têm experiência nisso: porque se mostraram inúteis
para o trabalho, eles tornaram-se apropriados para serem mortos. Eu sei que muitas
pessoas respeitam os Judeus e vêem a sua vida como honorável. Eu exorto-vos por
isso a colher esse preconceito depravado pelas raízes. Já disse que a sinagoga
não é melhor do que um teatro. Na verdade, a sinagoga não é apenas um bordel e
um teatro, mas também um antro de ladrões e abrigo para selvagens. E não apenas
para selvagens mas mesmo para selvagens impuros.»
- Concílio
de Nicéia (325 d.C) :
E assim,
chegamos ao famoso Concílio de Nicéia.Neste episódio, Constantino está em uma
disputa pela unificação de Roma, pois Roma estava dividida em quatro impérios,
e na última batalha Constantino disse ter tido uma visão de um sinal nos céus,
o qual entendeu ser símbolo do “cristianismo”, e então se ganhasse a batalha
ele prometeu tornar o “cristianismo” a religião oficial de Roma.Pois já que o
propósito era unificar o Império, então se precisaria também de uma única
religião.
Constantino
ganha a batalha e oficializa o cristianismo como religião oficial de
Roma.Ocorre o sincretismo religioso, união entre o paganismo, judaísmo e
cristianismo. Uma fusão entre o Estado e a Igreja.E também percebemos o
Anti-semitismo na nova religião, pois foram queimados os livros judaicos e mudou-se
a Páscoa para o domingo, para que não fosse realizada no mesmo dia que a Páscoa
judaica, com a justificativa : "Seria o cúmulo da falta de reverência
seguirmos as tradições dos judeus nesta maior de todas as festas. Não devemos
ter nada em comum com esse povo abominável".
* Segundo
historiadores, Agostinho e Tomás de Aquino foram os responsáveis pelo resgate
cristão da filosofia de Platão e
Aristóteles.
Pois bem,
no auge de Roma, após o Concílio de Nicéia(325 a.C), o bispo Jerônimo conclui a
tradução da Septuaginta** para o latim.
Havia
neste tempo muitos esforços para que houvesse uma religião unificada , gerando
assim um controle sobre o povo, pois quem controla o povo, tem poder sobre o império.E
esta versão feita por Jerônimo segundo relatos de estudiosos e até no livro”
Jerônimo , o tradutor da Bíblia”, houve muitas adulterações , mantendo de uma
certa forma o politeísmo romano e grego, para que os pagãos pudessem adentrar e
serem atraídos na nova religião e não haver tantos problemas. Vemos este tipo
de sincretismo no Brasil colonial também, onde ocorreram muitos sincretismos,
por exemplo, Maria do catolicismo se tornou Iemanjá do candomblé.
Há uma
citação de Metzger afirmando que : “ Irineu, Clemente de Alexandria,
Tertuliano, Eusébio, e muitos outros Pais da Igreja acusaram os hereges de
terem adulterado as Escrituras com a finalidade de prover apoio para seus
pontos de vista particulares.Na metade do Segundo Século, Márcion eliminou de suas
cópias do Evangelho segundo Lucas todas as referências feitas a formação
judaica de Jesus.A Harmonia do Evangelhos de Taciano contem várias alterações
textuais que deram apoio ao ponto de vista ascético ou da seita
incratita.”(Metzger, The Text, Pag 201)
E de
acordo com Gilberto Pickering no livro “Qual o texto original do Novo
Testamento”, Gaio, um pai ortodoxo que escreveu entre 175 e 200 d.C , cita
Asclepíades, Teódoto, Hermófilo, e Apollonides como hereges que prepararam
cópias das Escrituras e que tinham discípulos que multiplicaram cópias dessas
fabricações.
A
septuaginta, como vimos, é versão grega dos livros do chamado Velho Testamento,
foram escritos por judeus que estavam no período Helênico (Séc IV – I a.C),
considerado por alguns como a primeira globalização, onde havia a mesma moeda,
a mesma língua, valores. E este período era dominado pelo império macedônio,
por Alexandre Magno.E após a sua morte, o reino foi dividido, e Tolomeu reinou sobre
o Egito, e este libertou os judeus e pediu ao Sacerdote Eleazar para que fosse
traduzido para o grego as leis judaicas para que fizessem parte de sua
biblioteca(Flavio Josefo.História dos Hebreus.pp 511). Há relatos que a parte
da tradução mais fiel seja a Torá ou o Pentateuco (5 primeiros livros), e
talvez assim foi devido ao grande zelo de Israel para com a Torá e o mandamento
de não se acrescentar e nem tirar nada destes livros.Então neste período
Helênico, onde prevalecia a cultura grega, pode ter ocorrido algumas influências
gregas nas traduções dos demais livros e escritos fora do Pentateuco.
Algo
interessante , é que este desejo que moveu o surgimento de uma religião
unificada no auge de Roma, pode ser visto em alguns reflexos no grego do
chamado NT. Onde por exemplo, temos nomes de deuses gregos como:
- Chronos
– ídolo grego pai de Zeus que engoliu seus filhos e estes filhos ficaram vivos
em seu ventre. Zeus, porém conseguiu escapar de ser engolido por seu pai.
Só quero
fazer uma observação, “Chronos” se refere ao “tempo humano”, daí temos a palavra
“cronológico”. Pois bem, se pensarmos assim, o tempo engole seus filhos. Este é
um pensamento grego que remonta em nossos dias, ou seja, as pessoas são
engolidas pelo tempo, presas no ativismo, totalmente contrária ao pensamento
hebraico, onde o tempo é para servir o homem e não o homem ao tempo.
** Versão
grega do "Antigo testamento - TANACH " , traduzida por 70 sábios
judeus no 3º séc a.C, no período helênico.
1Ped 1:20
conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos
tempos(chronos), por amor de vós
- Hades –
ídolo grego que dominava sobre o lugar também chamado “ hades” relacionado a
vida após a morte. Um lugar subterrâneo, onde se tinha o paraíso para as
pessoas mais gloriosas e que honravam os deuses, e também tinha o “tártaro”, o
nível mais baixo do mundo inferior, e os que eram ruins e desonravam os deuses
eram condenados a este lugar por toda a eternidade.
Essas duas
palavras são usadas no grego do Novo Testamento, tanto Hades, quanto Tártaro .
2Ped 2:4
Ora, se D-us não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no
inferno(Tartaro), os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo;
Apoc 1:18
e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos
séculos e tenho as chaves da morte e do inferno (Hades).
No sentido
bíblico hebraico não há um local para quando morremos. Sheol ,a palavra
hebraica para a qual se traduz inferno em nossas bíblias, significa
“sepultura”.
- Ouranos
– ídolo grego relacionado ao céu.
Apoc 20:9
Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos
e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu(ouranos) e os consumiu.
O ponto
que quero trazer aqui é o fato de que estes nomes provavelmente não seriam
escritos pelos emissários(apóstolos) hebreus. E se levarmos a nossa mente para
o contexto em que essa religião em Roma estava sendo articulada, ou seja, em
prol de agregar mais adeptos para que o Império fosse fortalecido, então, fica
fácil entendermos que os gregos da época se sentiam muito confortáveis ao lerem
escritos sagrados em que continham nomes de ídolos que eles conheciam muito
bem, era mais fácil a familiarização com o “cristianismo”( a nova religião),
pois personagens de sua mitologia estavam presentes, e com isso não precisavam
mudar os conceitos e pensamentos que eles já tinham estabelecidos a cerca do
“céu –ouranos”, do “tempo –chronos”, do “inferno – hades”, e assim por diante, isto
é, o conceito e a mentalidade permaneciam os mesmos.E sendo assim, esses
pensamentos gregos continuam percorrendo pela história até hoje .
E a
Renacença no séc XV d.C no período de transição entre a Idade Média e a Moderna
contribuiu para isto .Houve um renascimento , uma volta as referências da
antiguidade clássica: Gregas e romanas.Entendo que este renascimento se estende
até os dias de hoje.
E após o
período da Renascença, temos a Reforma Protestante, temos Martinho Lutero como
o mais famoso reformador.
- Martinho
Lutero( alemanha 1483- 1546 d.C.) :
Ele
colocou as suas 95 teses contra algumas ações de Roma na porta da Igreja
Católica, mas também influenciou um pensamento anti-semita escrevendo um
tratado,o qual também pode ter servido de base ao nazismo ( pois o texto foi
citado pelos nazistas durante o Julgamento de Nuremberg para justificar a Solução
Final).
Vejamos
alguns trechos de seu tratado “os judeus e suas mentiras”
“(…)
Finalmente, no meu tempo, foram expulsos de Ratisbona, Magdeburgo e de muitos
outros lugares… Um judeu, um coração judaico, são tão duros como a madeira, a
pedra, o ferro, como o próprio diabo. Em suma, são filhos do demônio,
condenados às chamas do Inferno. Os judeus são pequenos demônios destinados ao
inferno.”
“Queime
suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e
trate-os com toda sorte de severidade … são inúteis, devemos tratá-los como
cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para
que não recebamos a ira de Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte.”
“Resumindo,
caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho
não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver
livres dessa insuportável carga infernal – os judeus.”
Portanto,
o “cristianismo protestante”, continua com o mesmo pensamento grego e
romano.Houve apenas algumas reforma, mas não um retorno a originalidade.
E algo
interessante que podemos perceber é que desde o 1º séc , a pessoa de Jesus era
estranha para a filosofia grega, assim como vemos no episódio em que Paulo fala
com os filósofos gregos, e estes acham a mensagem de Jesus, uma mensagem
estranha aos seus ouvidos, e eles consideram Jesus um ídolo estranho.
At
17:18-21 E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele,
havendo quem perguntasse:
Que quer
dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses; pois
pregava a Jesus e a ressurreição Então, tomando-o consigo, o levaram ao
Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? 20
Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a
ser isso. 21 Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra
coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades.
Isto nos
mostra que o "Jesus" que hoje se conhece, não é o mesmo referido por
Paulo, pois esse "Jesus" foi associado na filosofia grega por meios
dos "Pais gregos" da igreja cristã, e assim introduzido por eles ao
pensamento"cristão".E desta forma, o Jesus que se vê está com características
gregas, e assim, o Jesus no seu contexto hebraico original se torna muitas
vezes estranho ao “cristianismo” atual, pois está com uma mentalidade grega, e
acontece o que aconteceu com Paulo ao falar de Jesus para os gregos, ou seja,
eles dizem : “Parece pregador de estranhos ídolos”
Portanto,
a Comunidade dos discípulos de Jesus está fora deste contexto grego “cristão”.